A tragédia ocorrida em Pontal do Paraná, onde três vidas foram abruptamente interrompidas devido ao desabamento de uma laje que sustentava três caixas d’água em um supermercado recém-inaugurado, ressoa como um alarme estridente na comunidade da engenharia civil. Este evento não é apenas uma notícia dolorosa, mas um sério chamado à reflexão sobre a responsabilidade inerente à prática da engenharia. Na engenharia, os erros têm consequências imensuráveis, não apenas em termos financeiros ou de atrasos nos cronogramas, mas, mais gravemente, em perdas humanas.
A engenharia, por sua natureza, é uma ciência exata. Nesse contexto, o desabamento no Paraná destaca a importância crítica de aderir rigorosamente às normas técnicas que governam nosso trabalho. No Brasil, dispomos de um vasto conjunto de normas e regulamentos técnicos que cobrem todos os aspectos da construção civil. Estas normas, como a NBR 6118, que trata do projeto de estruturas de concreto, e a NBR 9607, que orienta a prova de carga em estruturas de concreto e a NBR 6120 que trata de ações para o cálculo de estruturas de edificações, são ferramentas indispensáveis para garantir a segurança e a durabilidade das nossas edificações.
Entretanto, a existência dessas normas por si só não é garantia de segurança. A aplicação e a aderência a esses padrões são o que efetivamente asseguram que acidentes como o ocorrido, possam ser evitados. Isso requer uma cultura de engenharia que valorize a educação contínua, a ética profissional e uma compreensão profunda das responsabilidades que assumimos ao projetar e construir espaços habitáveis principalmente seguros.
O acidente em Pontal do Paraná nos faz questionar: onde falhamos? As possíveis causas podem ser múltiplas e interconectadas, abrangendo desde o projeto inadequado, a escolha de materiais de baixa qualidade, falhas na execução da obra, até a falta de fiscalização efetiva. A NBR 6120, por exemplo, orienta sobre as cargas para o cálculo de estruturas de edificações e é crucial para o correto dimensionamento das estruturas que suportam caixas d’água.
Inspeção Estrutural e a Prevenção de Tragédias na Engenharia
A inspeção estrutural realizada por profissionais capacitados é decisiva para a segurança das edificações e para a prevenção de desastres. Através dela, é possível determinar o estado de locação e a magnitude das não conformidades, as quais, se não corrigidas, podem resultar em eventos catastróficos.
O gráfico do Prof. Paulo Helene, reconhecido na engenharia civil, aponta que as maiores frequência de origem de manifestações patológicas em edifícios. Estes possuem erros principalmente em projetos e execuções mal concebidas.
Em nosso contexto, a tragédia de Pontal do Paraná serve como um lembrete sombrio de que a responsabilidade da engenharia não termina na prancheta de projetos. A inspeção estrutural deve ser uma prática contínua, onde as recomendações dos engenheiros devem ser atendidas com a seriedade que a segurança estrutural exige.
Hipoteses de Falha
Em caso de Projeto
A falha de projeto é uma possibilidade investigativa no desabamento da laje em Pontal do Paraná, ainda que esta seja apenas uma hipótese que necessita de confirmação técnica por meio de laudo profissional. A engenharia estrutural depende da precisão e da conformidade com as normas técnicas como a NBR 6118, que orienta o projeto de estruturas de concreto, e a NBR 6120, que discorre sobre as cargas nas edificações, incluindo as de caixas d’água. Estas normas são fundamentais para garantir a integridade e segurança das construções.
A hipótese de falha de projeto destaca a importância crítica de uma análise minuciosa e detalhada em todas as etapas do projeto, incluindo o correto dimensionamento das estruturas e a adequada disposição de armaduras. É imprescindível que as ações especificadas nas normas sejam cumpridas rigorosamente para evitar sobrecargas e garantir a durabilidade da estrutura. A não conformidade com esses padrões pode levar a falhas estruturais graves, como potencialmente visto em Pontal do Paraná.
Em caso Construtivo
A falha construtiva é uma possibilidade que merece atenção quando se avalia o desabamento da laje em Pontal do Paraná. As caixas d’água devem passar por um teste de cargas, sendo ainda no estágio da construção. O papel desses testes, conforme delineado pela NBR 9607, é assegurar que a estrutura suporte as cargas projetadas sem atingir o estado limite último (ELU), onde a falha seria provável.
Em relação às caixas d’água no supermercado de Pontal do Paraná, a norma sugere que os testes de carga deveriam ser executados com todas as caixas cheias, simulando o peso máximo de 75 mil litros de água que a estrutura deveria suportar.
Este procedimento não deveria acontecer durante o funcionamento do supermercado, nem com pessoas presentes no local, em conformidade com as normas de segurança do trabalho. A rigorosa observância desses procedimentos é essencial para garantir a segurança das estruturas e, mais importante, a segurança humana.
As imagens e as decrições abaixo tem a intenção de elucidar aspectos da execução e dos processos construtivos. É importante destacar que a intenção deste conteúdo não é fazer apontamentos apelativos, e sim trazer algumas caracterizações dos fatos ocorridos para servir como uma possível hipotese das causas específicas do evento ocorrido:
A obra em questão foi concebida utilizando um sistema estrutural pré-moldado, caracterizado por sua agilidade e rapidez de montagem. Esta metodologia permite que os elementos estruturais, incluindo os painéis e vigas, fabricados em um ambiente externo do canteiro da obra, o que potencialmente melhora a qualidade dos materiais devido aos processos de fabricação padronizados e às condições mais rigorosas de inspeção em comparação com as que geralmente encontramos em métodos construtivos in loco.
Particularmente, as lajes empregadas para suportar as caixas d’água eram do tipo alveolar. Lajes alveolares são reconhecidas por seus vãos longos e são unidirecionais, ou seja, apoiadas em duas vigas em um unico sentido.
Abaixo algumas imagens da concepção e montagem da laje alveolar:
Na concepção do projeto em questão, a estrutura foi composta por três lajes, cada uma com uma área aproximada de 50 m² e uma espessura de 15 cm, dimensionadas para atender às necessidades específicas do supermercado. Em um dos pavimentos, foram instaladas três caixas d’água com capacidade para 10.000 litros cada, e em outro, mais três caixas, estas com capacidade de 15.000 litros cada. No total, o sistema foi projetado para armazenar 75.000 litros de água, o que equivale a um peso/carga de 75 toneladas a ser suportado pela estrutura.
Abaixo a imagem fornecem uma visão preocupante da gravidade do incidente, revelando que algumas vigas foram arrancadas de seus pilares, um indicativo claro de falha estrutural. O apoio das lajes nas vigas é um aspecto crucial no projeto estrutural, pois é onde a transferência de cargas ocorre.
O trágico colapso no supermercado de Pontal do Paraná aponta, infelizmente, para uma falha estrutural significativa. O incidente parece ter seguido um padrão de efeito dominó ou cascata, no qual o comprometimento de uma das lajes da estrutura levou ao sobrecarregamento das lajes abaixo devidamente da falha de uma única laje. Nesse tipo de cenário, quando uma laje é levado ao colapso, lajes abaixo adjacentes também foram por conta da sobrecarga excessiva catalisada pela gravidade de sua altura entre uma e outra.
Conclusão
Agora o trabalho da conclusão e suas causas deverão ser levantadas, trazendo todos os envolvidos a prestarem depoimentos e a coleta de documentações tanto de projeto, quanto da obra.
Refletir sobre o desabamento em Pontal do Paraná é uma obrigação moral para com as vítimas e suas famílias, mas também ético para toda a comunidade de engenharia civil. Devemos nos esforçar incessantemente para elevar nossos padrões, melhorar nossas práticas e assegurar que isso não volte a acontecer. A capacidade de aprender com nossos erros e de prevenir falhas é o que verdadeiramente nos permite avançar como profissionais e como sociedade.
A análise desse desabamento deve servir como um aviso severo para todos na indústria da construção sobre a importância de seguir rigorosamente as melhores práticas de engenharia e aderir estritamente às normas técnicas. Este é um momento de reflexão para a engenharia civil e para reforçar a necessidade de revisões cuidadosas, inspeções regulares e uma abordagem sempre conservadora na estimativa de cargas e na aplicação de fatores de segurança.