Na fase inicial de contratação de um projeto estrutural, um dos critérios decisivos é o custo. O valor do projeto é frequentemente atrelado ao metro quadrado construído (m²), servindo como uma métrica inicial para o orçamento. No entanto, a busca por economia no projeto não termina com a definição do seu preço; estende-se à execução, onde a eficiência e a redução de custos são imperativas, tendo que diminuir os quantitativos de materiais para alcançar o menor custo possível dentro de uma margem de segurança. Essa necessidade de economia frequentemente entra em conflito com as práticas da construtora, destacando assim a essência do nosso tema: as diferentes perspectivas dos envolvidos no processo de construção.
Portanto, é essencial reconhecer que o melhor projeto nem sempre é o mais barato, e inversamente, o maior investimento não garante o melhor projeto. Existe uma linha tênue entre alcançar uma solução com um excelente custo-benefício e cair na armadilha de economias ilusórias. Para navegar com sucesso por essa delicada balança, é crucial que o projetista possua uma compreensão profunda e aplicada do seu ofício. O conhecimento técnico, aliado à experiência, permite identificar onde economizar sem comprometer a integridade estrutural e a durabilidade da construção.
Economias realizadas sem uma análise criteriosa podem levar a falhas construtivas e patologias futuras, resultando de uma tentativa de reduzir custos às expensas da qualidade e eficiência do projeto. O que inicialmente parece ser uma economia significativa pode, a longo prazo, revelar-se um custo elevado devido à necessidade de correções e intervenções posteriores. Essas intervenções, como demolições, reparos e reconstruções, podem custar significativamente mais do que investimentos adequados feitos no início do projeto.
Assim, a economia durante o processo de construção deve ser abordada com cautela e entendimento. A busca por soluções econômicas não deve jamais comprometer a segurança, funcionalidade e durabilidade da estrutura. A decisão de economizar requer uma análise detalhada e um planejamento cuidadoso, priorizando sempre a qualidade e a sustentabilidade do projeto a longo prazo.
Gosto de usar muito este diagrama abaixo, o qual vale para qualquer tipo de obra e reforma a ser realizada:
Este diagrama, possui uma relação direta entre o tempo e os processos, juntamente com o impacto que isso gera de acordo com as decisões tomadas.
Perspectivas
Visão do Cliente
Custo: O cliente prioriza a otimização dos custos, buscando a melhor relação custo-benefício sem comprometer a qualidade e segurança da edificação.
Funcionalidade e Estética: A edificação deve atender às necessidades de uso e preferências estéticas do cliente, considerando a flexibilidade para futuras adaptações ou expansões.
Prazos: A entrega do projeto dentro do cronograma estabelecido é crucial para o cliente, especialmente se houver datas críticas envolvidas, como mudanças ou operações comerciais.
Visão da Construtora
Execução: A construtora valoriza projetos que facilitam a execução, com detalhamento e soluções construtivas que reduzam a complexidade e o tempo de construção.
Gestão de Riscos: Identificação e mitigação de riscos técnicos, financeiros e de segurança, visando minimizar imprevistos que possam afetar o custo e o cronograma da obra.
Visão do Projetista
Conformidade com Normas Técnicas: Garantir que o projeto esteja em conformidade com as normas técnicas aplicáveis, como NBR 6118, NBR 6122, NBR 6123, NBR 6120, e NBR 8800, é fundamental para o projetista.
Eficiência: O emprego de materiais eficientes, visando produtos que contenham qualidade e durabilidade em seu uso. Assim como mão de obra especializada para os serviços.
Cada visão traz suas próprias prioridades, sendo essencial um diálogo efetivo entre as partes para alinhar expectativas, identificar soluções e garantir o sucesso do projeto. A integração dessas três perspectivas desde as fases iniciais do projeto contribui para a eficiência, redução de custos e satisfação de todos os envolvidos.
O Modelo de Custo da Qualidade
Se tratando em otimização de recursos e qualidade, apresento o modelo de custo da qualidade de Joseph Juran que emerge como uma ferramenta interessante. O gráfico abaixo ilustra a dinâmica entre os esforços da qualidade e o impacto financeiro resultante, tanto em termos de prevenção quanto de falhas. Este modelo se destaca pela importância de um planejamento e também oferece uma visão estratégica para alcançar a eficiência máxima sem comprometer os padrões de qualidade.
Aqui temos o Custo de Prevenção e Avaliação, representado pela linha tracejada azul. Este custo aumenta à medida que mais esforços são direcionados para atividades de prevenção de problemas e avaliação da qualidade durante o planejamento e execução do projeto.
Já o Custo das Falhas Internas e Externas, pela linha tracejada vermelha mostra que, com menos esforço de qualidade, os custos associados a falhas e defeitos (internos e externos) tendem a aumentar.
O principal que seria o Custo Total, pela linha verde contínua representa a soma dos custos de prevenção e avaliação com os custos de falhas. O objetivo é minimizar essa linha.
E por fim o que buscamos é o Ponto Ótimo de Esforço da Qualidade, indicado pela linha vertical verde, é o ponto onde o custo total é minimizado. Isso significa que o investimento em qualidade (prevenção e avaliação) é suficiente para reduzir as falhas a um nível que não justifique investimentos adicionais em prevenção.
Para finalizar saliento em complementar que os projetos arquitetônicos ocupam um lugar central na construção civil; como um ponto de partida, onde a visão do cliente começa a se materializar. Cada linha desenhada pelo arquiteto serve como a base para os subsequentes projetos de engenharia e construção. É a partir deste ponto que as variáveis de custo, tempo e qualidade começam a interagir e influenciar umas às outras, traçando o caminho para a realização da visão do projeto.